Obesidade: entender para tratar

Tratamento para emagrecer é coisa séria. Então, nada de dietas mágicas e automedicação. A Dra. Rafaela Cordeiro, endocrinologista da Clínica Simone Neri, fala uma pouco dos protocolos para tratamento da obesidade em graus variados. Confira:


Primeiro é importante entender que o tratamento seguro para a perda de peso inclui uma mudança de comportamento, dieta e exercícios para todas as classes de obesidade e sobrepeso, considerando sempre como parâmetro o IMC – Índice de massa Corporal – superior a 25. O IMC é adotado pela OMS – Organização Mundial de Saúde – para determinar o peso ideal de cada pessoa. É calculado dividindo-se o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado. O resultado dessa equação gera a seguinte classificação: menor que 18,5 – abaixo do peso; entre 18,5 e 24,9 – peso adequado; entre 25 e 29,9 – sobrepeso; igual ou acima de 30 – obesidade.

Exemplo: um indivíduo com 95 quilos e 1,75 de altura tem um IMC de 31,02 (95 / por 1,75 X 1,75) Nesse caso, já e considerado obeso pela tabela de IMC.

Quando é necessário utilizar medicação no tratamento da obesidade?

Quando uma pessoa atinge um IMC superior a 27 e apresenta comorbidades (diabetes, pressão alta), ou atinge IMC acima de 30, já é indicada a terapia com medicamentos associada a dieta e exercícios, entre outras medidas. A cirurgia bariátrica é indicada em último recurso e só a partir de IMC superior a 35.

Importante ressaltar que o medicamento por si só não vai gerar o resultado final, mas é um grande aliado para aumentar a aderência à dieta e às mudanças comportamentais e pode melhorar o funcionamento físico, tornando a prática de atividade física mais fácil nas pessoas sedentárias ou que não podem fazer atividade física inicialmente. Além disso, pacientes com dificuldade para perder peso ou para manter o peso de forma consistente são candidatos ao uso de medicamentos a partir de avaliação clínica.

Como funciona o uso de medicamentos no tratamento da obesidade?

Em primeiro lugar, lembre-se de nunca se automedicar. Só um médico pode avaliar o seu estado de saúde e indicar os medicamentos corretos. No caso de medicamentos para emagrecer, ou anorexígenos, a avaliação médica deve ser mensal nos primeiros 3 meses e depois trimestral. Se o paciente perder mais de 5% do peso corporal na primeira fase de 3 meses, a medicação pode ser mantida desde que não haja efeitos colaterais. Caso contrário, com perda inferior a 5% do peso corporal e se houver intolerância ou a segurança do paciente estiver comprometida, o médico deverá indicar uma alternativa.

E cada caso é um caso, por isso, é preciso que seja feita avaliação por um médico. Para pacientes diabéticos, por exemplo, deve-se optar por medicamentos não ganhadores de peso. Pacientes com doenças cardíacas devem utilizar medicamentos cardioprotetores, como os não simpático miméticos.

Quais medicamentos são utilizados no tratamento da obesidade?

Conheça os tipos de medicamentos indicados para o tratamento de obesidade a partir da avaliação médica: 

  1. Não simpático miméticos:

Lorcaserina – a perda de peso estimada com esse medicamento é de 6% do peso corporal inicial, considerando 1 ano de tratamento. Os efeitos adversos são bem toleráveis, por isso, o medicamento pode ser usado por longos períodos, mas a perda de peso não costuma ser robusta. Não é recomendado para pacientes que utilizam outros tipos de antidepressivos ou aqueles que têm distúrbios psiquiátricos prévios ou distúrbios de válvulas cardíacas.

Orlistate – é inibidor da lipase gástrica e pancreática, levando à perda de 7 quilos em 16 semanas. Não possui efeitos no sistema nervoso central, age de forma não sistêmica, mas tem um perfil de tolerância individual, ou seja, varia de pessoa para pessoa.

  • Simpaticomiméticos – inibidores da recaptação de noradrenalina:

Anfepramona – não é recomendado para pacientes com doenças cardiovasculares, podendo causar efeito rebote ou dependência.

Fentermina / Sibutramina – devem ser utilizados de forma isolada, são eficazes, de baixo custo, podendo alcançar em 1 ano perda de 12% do peso corporal inicial. Não recomendados para pacientes com históricos de doenças cardiovasculares. Amplamente utilizada nos EUA, a fentermina não é autorizada pelas autoridades de vigilância farmacológica no Brasil, mas sua liberação está em análise.

  • Estabilizadores de humor inibidores de recaptação de serotonina:

Sertralina, Fluoxetina

  • Inibidor da recaptação de dopamina e noradrenalina:

Bupropiona: perda de 5% do peso corporal inicial em até 1 ano. Medicamento seguro, com dados de muitos estudos clínicos. Tem bom efeito sobre a fissura por doces e alimentos calóricos, mas pode causar constipação, cefaleia e insônia.

  • Antagonista de OPIDOIDES:

Naltrexone – perda de 5% do peso corporal inicial em até 1 ano. Medicamento seguro, com dados de muitos estudos clínicos. Tem bom efeito sobre a fissura por doces e alimentos calóricos, mas pode causar constipação, cefaleia e insônia.

  • Modulador de receptor GABA:

Topiramato: esse medicamento tem efeito no centro da saciedade cerebral, levando à perda de até 10% do peso inicial corporal em período médio de 1 ano. Pode ser usado por longos períodos, porém, não é recomendado para grávidas. Pode causar déficit cognitivo, como esquecimento.

Outros medicamentos:

Liraglutida: Análogo de GLP1, tem aplicação subcutânea, requer acompanhamento de funções pancreáticas e hepáticas, além de precaução contra hipoglicemia. Oferece perda de 10% do peso corporal inicial em até 3 meses.

Lisdexanfentamina (Venvanse): Recentemente autorizada pelas autoridades americanas e também no Brasil tem bons resultados em casos de “biding eating disorder”, que é o hábito de consumir de forma compulsiva grande quantidade de calorias em poucos minutos.

Conhecer os medicamentos do seu tratamento é importante, mas a proposta de um tratamento multidisciplinar e individualizado é o segredo do sucesso para alcançar a perda de peso sustentada, evitando efeitos rebote ou “sanfona”.  Nosso objetivo é identificar as falhas dietéticas e distúrbios alimentares, além de distúrbios hormonais associados, para que a indicação medicamentosa seja assertiva, minimizando as frustações e, claro, alinhando as expectativas dos pacientes ao tratamento endocrinológico.

Dra. Rafaela Cordeiro

CRM 137.900

Rqe 77743

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